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6 de julho de 2015

O Sorriso da Lua

Antes de tudo quero aqui afirmar que a, ora vigente, obrigatoriedade pomposamente declarada acordo ortográfico é, para mim, insignificância fecal.

É um direito genesíaco que me assiste, quer se queira, quer não.

Vou redigir os textos, que prover por bem, seguindo aquilo que me der na veneta e os princípios que bebi sofregamente das minhas professoras Maria Albertina Coelho Estácio (hoje no Brasil) e Adélia Clara Vaz (hoje em Portimão).

Porque tenho, para com elas, o senso do maior respeito e admiração. Elas bem sabiam o que me ensinavam. Ainda hoje, estou ciente, sabem bem que me ensinaram o apropriado e o devido.

Pronto!

Parágrafo.


De todos os projectos que tenho iniciado, ou tentado iniciar, há um particularmente importante que tem sido sistematicamente adiado, por uma questão meramente estética: a minha autobiografia – que já vai sendo tempo de ser feita.

O ponto de decisão surgiu agora, com a publicação da obra “Memórias de memória (A poesia de um Tempo com tempo)”, da minha irmã mais-velha Adélia Vaz. 1

As “Memórias de memória” são, concludentemente, para além d’O seu livro de poesiauma autobiografia da Adélia, angolana, feminina (ia dizer feminista, mas mais do que isso) e definitiva.

Foram estas memórias que me incentivaram a publicar, on line e passo a passo, a minha autobiografia.

Era esta a questão meramente estética que me falhava - on line e passo a passo.

Pela comunhão espiritual, as autobiografias transformam-se em determinante consistentemente primária, obviamente: pelos estilos - poesia e on line -  e pelo sustentáculo nutritivo das obras, consubstanciado pela vivência comum.

Nada do que a Adélia possa escrever a partir de agora, demarcará diferenças ou dissemelhanças.

Ali, nas “Memórias” tudo está, o que é uma vida!

E é por isso mesmo, por estar tudo ali, que escolhi o título do blog,

O Sorriso da Lua ,

homónimo de um poema da obra, um dos mais belos e significantes:


                    O sorriso da Lua
                    tem pedacinhos de céu
                    rasgados da noite imaginada

                    o sorriso da Lua
                    tem sabor a pitéu
                    adocicado da madrugada

                    o sorriso da Lua
                    tem recortes de gratidão
                    duma amizade anunciada

                    o sorriso da Lua
                    enlevado à contemplação
                    alumia minha caminhada …



A minha ligação às “Memórias” é umbilical:
1º por ter escrito o posfácio e
2º por ter sido presenteado com um poema, “Um Quadro Para Ti…”, quanto a mim e ultrapassada a questão sentimental, o melhor  poema de toda a obra.


Posfácio
Rosa viva 2

      Sempre desejei ter uma irmã mais velha. Biologicamente foi coisa que não aconteceu, nem mais velha, nem mais nova.
      Aos 12 anos conheci a Adélia. Não era, ainda, Vaz. Foi numa sala de aulas e logo me cortei num dedo, com uma lâmina. Foi amor ao primeiro golpe, já que o primeiro corte é o mais profundo. Continuou profundo, pela vida fora.
      Naquele dia, sem que ninguém o soubesse, adoptei-a como irmã. Os meus colegas chamavam-lhe a professora Adélia. Era para mim, sempre foi, Adélia apenas.
      As vicissitudes da vida fizeram com que nos separássemos, mas também, que nos reencontrássemos. No entretanto tínhamo-nos enfeitiçado, como gémeas almas, pela poíesis, estou em crer que por via das curoquides. 
      A prova da gemelaridade aqui está: mais do que um aluno, só um irmão lhe poderia ter dedicado este poema:

                    mais do que livros cadernos
                    estantes mapas canhenhos
                    na secretária
                    tinha uma flor a minha aula
                    do rubro uterino da vida,
                    selvagem
                    era uma rosa ao jardim
                    onde colhi
                    liberdade.


Admário Costa Lindo
Póvoa do Mar
21.08.2014.





Um Quadro Para Ti…

O verde seco, num salpicado,
em chão terra do planalto…
ao longe o rubro vermelho
dum sol posto, lá do alto…
sobressai no azul forte do céu…

ténues as rosas são, em dourados,
o todo, na paisagem adocicando…
sobrevoam lestas nuvens, rasando
copas altas, em verdes alinhados…

à mistura, com o carreiro ondulado,
libelinhas, louva-a-Deus, borboletas…
salpicando coloridos e transparências
dão o mote de inspiração a poetas…

completam o quadro, para Ti pintado…



Para o meu Amigo/Aluno Admário Costa Lindo – poeta, escritor, pintor… sempre aprendendo com o Tempo, no seu tempo com tempo para mais crescer e nos doar seus saberes e conhecimentos…



Muitos poemas também eu dediquei à Adélia, a grande maioria deles publicados em livro, depois de terem nascido na internet.


Um deles ofereci-o no dia do seu aniversário, publicado no “postal internáutico” http://adelia.no.sapo.pt/ que os amigos e antigos alunos lhe ofereceram em 2005.

Adélia


                    aprendi teu nome -
                    enquanto o olhar agrada
                    e a alma cresce

                    bebi  teu siso -
                    sempre que a memória encanta
                    e o vigor floresce

                    aprendi a luz -
                    enquanto te decifrei saber
                    no sabor do riso.

                    hoje agradeço
                   a lição: que a vida
                    é tudo isso



admário costa lindo
09.09.2005

                                                                               



Esta minha autobiografia será maioritariamente escrita em prosa, sem que me desvie nunca da poesia.



1 comentário:

aileda disse...

Emocionada!!! Tudo o q deixaste AKI...me tocou. As tuas reminiscências de menino de tenra idade, o calor da tua alma de homem feito... tudo me elevou a alma. Simplesmente, GOSTEI!!!
Meu carinho, meu Amigo grande.