É um direito genesíaco que me assiste, quer se queira, quer não.
Vou redigir os textos, que prover por bem, seguindo aquilo que me der na veneta e os princípios que bebi sofregamente das minhas professoras Maria Albertina Coelho Estácio (hoje no Brasil) e Adélia Clara Vaz (hoje em Portimão).
Porque tenho, para com elas, o senso do maior respeito e admiração. Elas bem sabiam o que me ensinavam. Ainda hoje, estou ciente, sabem bem que me ensinaram o apropriado e o devido.
Pronto!
Parágrafo.
De todos os projectos que tenho iniciado, ou tentado iniciar, há um particularmente importante que tem sido sistematicamente adiado, por uma questão meramente estética: a minha autobiografia – que já vai sendo tempo de ser feita.
O ponto de decisão surgiu agora, com a publicação da obra “Memórias de memória (A poesia de um Tempo com tempo)”, da minha irmã mais-velha Adélia Vaz. 1
As “Memórias de memória” são, concludentemente, para além d’O seu livro de poesia, uma autobiografia da Adélia, angolana, feminina (ia dizer feminista, mas mais do que isso) e definitiva.
Foram estas memórias que me incentivaram a publicar, on line e passo a passo, a minha autobiografia.
Era esta a questão meramente estética que me falhava - on line e passo a passo.
Pela comunhão espiritual, as autobiografias transformam-se em determinante consistentemente primária, obviamente: pelos estilos - poesia e on line - e pelo sustentáculo nutritivo das obras, consubstanciado pela vivência comum.
Nada do que a Adélia possa escrever a partir de agora, demarcará diferenças ou dissemelhanças.
Ali, nas “Memórias” tudo está, o que é uma vida!
E é por isso mesmo, por estar tudo ali, que escolhi o título do blog,
O Sorriso da Lua ,
homónimo de um poema da obra, um dos mais belos e significantes:
O sorriso da Lua
tem pedacinhos de céu
rasgados da noite imaginada
o sorriso da Lua
tem sabor a pitéu
adocicado da madrugada
o sorriso da Lua
tem recortes de gratidão
duma amizade anunciada
o sorriso da Lua
enlevado à contemplação
alumia minha caminhada …
A minha ligação às “Memórias” é umbilical:
1º por ter escrito o posfácio e
2º por ter sido presenteado com um poema, “Um Quadro Para Ti…”, quanto a mim e ultrapassada a questão sentimental, o melhor poema de toda a obra.
Posfácio
Rosa viva 2Sempre desejei ter uma irmã mais velha. Biologicamente foi coisa que não aconteceu, nem mais velha, nem mais nova.
Aos 12 anos conheci a Adélia. Não era, ainda, Vaz. Foi numa sala de aulas e logo me cortei num dedo, com uma lâmina. Foi amor ao primeiro golpe, já que o primeiro corte é o mais profundo. Continuou profundo, pela vida fora.
Naquele dia, sem que ninguém o soubesse, adoptei-a como irmã. Os meus colegas chamavam-lhe a professora Adélia. Era para mim, sempre foi, Adélia apenas.
As vicissitudes da vida fizeram com que nos separássemos, mas também, que nos reencontrássemos. No entretanto tínhamo-nos enfeitiçado, como gémeas almas, pela poíesis, estou em crer que por via das curoquides.
A prova da gemelaridade aqui está: mais do que um aluno, só um irmão lhe poderia ter dedicado este poema:
mais do que livros cadernos
estantes mapas canhenhos
na secretária
tinha uma flor a minha aula
do rubro uterino da vida,
selvagem
era uma rosa ao jardim
onde colhi
liberdade.
Admário Costa Lindo
Póvoa do Mar
21.08.2014.
Um Quadro Para Ti…
O verde seco, num salpicado,
em chão terra do planalto…
ao longe o rubro vermelho
dum sol posto, lá do alto…
sobressai no azul forte do céu…
ténues as rosas são, em dourados,
o todo, na paisagem adocicando…
sobrevoam lestas nuvens, rasando
copas altas, em verdes alinhados…
à mistura, com o carreiro
ondulado,
libelinhas, louva-a-Deus,
borboletas…
salpicando coloridos e
transparências
dão o mote de inspiração a
poetas…
completam o quadro, para Ti
pintado…
Para o meu Amigo/Aluno Admário Costa Lindo – poeta, escritor, pintor… sempre aprendendo com o Tempo, no seu tempo com tempo para mais crescer e nos doar seus saberes e conhecimentos…
Muitos poemas também eu dediquei à Adélia, a grande maioria deles publicados
em livro, depois de terem nascido na internet.
Um deles ofereci-o no dia do seu aniversário, publicado no “postal
internáutico” – http://adelia.no.sapo.pt/ –
que os amigos e antigos alunos lhe ofereceram em 2005.
Adélia
aprendi teu nome -
enquanto o olhar agrada
e a alma cresce
bebi teu siso -
sempre que a memória encanta
e o vigor floresce
aprendi a luz -
enquanto te decifrei saber
no sabor do riso.
hoje agradeço
a lição: que a vida
é tudo isso
admário costa lindo
09.09.2005
Esta minha autobiografia será maioritariamente escrita em prosa, sem que me desvie nunca da poesia.
1 comentário:
Emocionada!!! Tudo o q deixaste AKI...me tocou. As tuas reminiscências de menino de tenra idade, o calor da tua alma de homem feito... tudo me elevou a alma. Simplesmente, GOSTEI!!!
Meu carinho, meu Amigo grande.
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